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Caravana da saúde em Madagascar

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Caravana da saúde em Madagascar chega ao fim com mais de 2 mil crianças atendidas em 8 dias

Foram mais de 2.050 atendimentos entre triagem, consultas, distribuição de remédios e tratamento, quando disponível. Destes números, muitas crianças doentes. Um trabalho intenso e extremamente fraterno. A caravana da saúde termina as atividades em Ambovombe, região Sul de Madagascar, cumprindo dois objetivos: o médico-odontológico, de levantar as doenças prevalentes e assim traçar um perfil do que mais precisa o povo malgaxe, e, o humano: de levar esperança às famílias vítimas da seca.

Sob um cenário onde a saúde pública é praticamente inexistente e não há hospital estruturado na região. Os medicamentos, quando receitados dentro dos hospitais para os pacientes internados, precisam ser comprados. Se falta até água e comida, quem dirá recursos para arcar com remédios?

“Fiquei arrasada quando uma criança veio para atendimento e convulsionou! Não pude gritar: ‘pega o x ou y no carrinho de emergência’ porque eu não tinha nada para oferecer e foi impossível não conter as lágrimas! A mãe disse que ele tinha neurocisticercose, em outras palavras: vermes no cérebro. Como eu vou tratar isso aqui minha gente? Sem exame do líquor ou outros, sem medicação adequada? O que pude oferecer naquele momento foi meu colo e consolo e isso foi, para ambos, paciente e médico, o que naquele momento bastou”, relatou a médica caravaneira Sthephani Martins.

A caravana da saúde da Fraternidade Sem Fronteiras ficou do dia 3 ao dia 12 de junho em Ambovombe. O local é de difícil acesso e leva-se até três dias para chegar. O atendimento contou com a colaboração dos 22 voluntários – entre eles dez médicos e uma dentista – e começava com refeição, banho, pesagem e medida de altura, triagem, médicos, educação bucal e terminava com kit de escova de dente e roupinhas.

Na triagem, ficou muito claro que nem mesmo as famílias têm dados sobre si. “Muitas mães não sabem sequer a data de nascimento dos filhos. Não há nenhum controle de natalidade”, observou a médica caravaneira Angélica Bogatzky. Mães morrem entre gestações e partos e outras tantas são diagnosticadas com sífilis, mas não seguem nenhum tratamento.

Entre as doenças prevalentes, disparado está desnutrição crônica, seguido de pneumonia, otite, conjuntivite e infecções de pele. A falta de água e consequentemente de higiene acarreta outras. Nos atendimentos, os caravaneiros perceberam que crianças não usam fraldas e muitas delas, ao fazerem as necessidades ali mesmo, as mães desenrolavam as próprias cangas, limpavam o chão e enrolavam na cintura novamente.

“Elas ficam vulneráveis às doenças infecto contagiosas. A grande maioria se queixa de dor de barriga e diarreia. Como a água é insalubre, deve haver um índice muito grande de gastroenterocolite aguda”, acredita Angélica.

Médico caravaneiro, Marcelo Cury explica que o perfil traçado nesta primeira caravana é fundamental para nortear ações futuras como programas de alimentação, compra e distribuição de remédios, além das ações médicas e educacionais.

“O mais importante é a educação com relação à higiene. Com a grave falta de água eles não têm a mínima noção de higiene. Algumas famílias sobrevivem com 20 litros por dia. Um banho por semana. Ainda fico com lágrimas nos olhos quando lembro das crianças com ‘Kwashiorkor’, esta palavra significa doença do filho mais velho em uma língua africana. Estudei isto na faculdade, pensei que nunca veria na prática, mas vimos muitos casos. É um tipo de desnutrição por absoluta falta de proteínas”, relata Marcelo.

Saúde bucal – “Foi um sopro de vida para mim. Me deu muita vontade de prosseguir ajudando”, descreve a dentista caravaneira Ângela Martins. Sem uma estrutura de consultório devidamente equipado, a principal ferramenta para o atendimento odontológico foi o carinho.

“Colocar uma escova de dentes nas mãos daquelas muitas crianças pela primeira vez? Foi gratificante quando elas estampavam um sorriso cheio de alegria com a novidade! Uma semente que precisa de muito trabalho para brotar e crescer”, conta Ângela.

A dentista ensinou às crianças como escovarem os dentinhos e ainda distribuiu 3 mil kits com escova e pasta dental. Como foi constatada muitas cáries nos dentinhos, Ângela propôs ampliar o trabalho. “Estou fazendo cotação de equipamentos para montar um consultório completo lá, meu apelo é que todos se sensibilizem com o abandono e sofrimento dessas inúmeras crianças e colaborem de alguma forma. Há muito o que fazer”, sente.

Mesmo com a caravana de volta, o trabalho da Fraternidade continua lá. Instalado o centro, as crianças órfãs e vulneráveis receberão alimentação diária. Novas caravanas já estão previstas: de educação e saúde já para os próximos meses.

A intenção da Fraternidade é investir numa sede com área para banho e educação de higiene. “Acreditamos que com banho, grande parte das doenças não existiriam”, explica a médica Angélica.

O que fica? – Caravaneira e também médica, Flávia Chiaini resume: a caravana acabou, mas deixou plantada uma sementinha. “Temos muito trabalho a realizar ainda. Aqui se tem a barreira do idioma, mas o que achamos que é pouco, para eles é 100%. Trouxemos esperança e agora temos que mostrar que há chance de mudança”, descreve a voluntária.

A mudança já pode ser sentida por Hassina, gentil jovem que traduzia do francês para o malgaxe, dialeto local.

“Ela estava lá sentadinha no chão aguardando avaliação e se tornou a mais bondosa tradutora que já vi. De tradutora, Hassina passou para uma dedicada técnica em saúde e agora irá atrás dos casos mais graves”, resume Flávia.

Assim como o trabalho da caravana materializou a esperança de Hassina, a Fraternidade segue agora os esforços convidando a todos para ajudar na causa humanitária.

O “joinha” para a dentista Ângela que ensinou a escovar os dentes

A vontade de escovar certinho era proporcional à força do garotinho.

 

A alegria de quem recebe um presente.

Farmacinha que abasteceu caravana.

Cenário que se repete em Ambovombe.

E a alegria de comer.

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